Sunday, November 28, 2010

Os últimos acontecimentos da luta de classes recolocaram em debate qual o verdadeiro papel das policias e dos aparatos de repressão dentro do Estado burguês mesmo quando este se apresenta na forma de um “Estado Democrático de Direito”.

Engels nos ensinou que o Estado existe por que existem as classes sociais e, como sua consequência, a luta de classes. Então, para que esses antagonismos de classe não destruam o organismo social ergue-se um poder que se coloca, aparentemente, acima da sociedade, para atenuar e manter os conflitos de classe nos limites da “ordem”.

O Estado é um poder para a dominação da classe economicamente mais forte, um instrumento de opressão de uma classe por outra, criador de uma ordem legalizadora e consolidadora da opressão [1]. Um instrumento que permite a classe dominante efetivamente dominar, mantendo submetidas as classes exploradas.

Sua principal característica é a existência de uma força pública militar em contraposição a população organizada espontaneamente enquanto poder armado. Essa força militar é composta por destacamentos de homens armados: exército permanente e polícia, tendo à sua disposição prisões, tribunais e institutos penais de coerção.

Por isso ele e Marx saudaram o primeiro decreto da Comuna de Paris que suprimiu o exército permanente e o substituiu pelo povo armado. A polícia perdeu suas atribuições político-burguesas e transformou-se em um instrumento da Comuna, sendo o mandato de seus membros revogáveis a qualquer tempo. Juizes, procuradores e demais funcionários judiciários passavam a ser eleitos, estando seus mandatos sujeitos à revogação a qualquer tempo. Nesse quadro de absoluta elegibilidade e revogabilidade a qualquer momento de todos os funcionários communards, sem qualquer exceção, todos os cargos do serviço público haviam de ser prestados na base dos salários dos operários.

Por isso, Lenin chegou a afirmar: “Apenas o comunismo torna o Estado absolutamente desnecessário, porque não existe ninguém para ser suprimido, ‘ninguém’ no sentido de classe. (...) Não somos utopistas e não negamos minimamente a possibilidade da inevitabilidade de excessos da parte de pessoas individuais ou a necessidade de deter tais excessos. Em primeiro lugar, contudo, não se necessita de nenhuma máquina especial, de nenhum aparato especial de supressão. Isso será feito pelo próprio povo armado, tão simplesmente e tão prontamente como qualquer massa de povo civilizado, até mesmo na sociedade moderna, interfere para deter uma pancadaria ou impedir que uma mulher seja atacada. E, em segundo lugar, sabemos que a causa social fundamental dos excessos, que consistem na violação das regras do intercurso social, é a exploração do povo, suas necessidades e sua pobreza. Com a remoção da principal causa, os excessos começaram, inevitavelmente, a ‘perecer’. Não sabemos quão rapidamente e em que sucessão, porém, sabemos que perecerão. Com o seu perecimento, o Estado também perecerá” [2].

Como se ve então nossos mestres trabalhavam claramente com o conceito que o aparato de repressão policial existe para reprimir e agir de maneira coercitiva contra o povo pobre. E no caso do Brasil o povo pobre negro que vive nas favelas e nos bairros operários.

O combate a criminalidade é somente um subproduto desta tarefa principal ou até mesmo um disfarce para a implementação de sua tarefa fundamental.

Não se trata somente de policiais bons ou maus, mas sim de um Estado que é o maior impulsionador da violência e da criminalidade.

São as próprias instituições do Estado, corruptas e decadentes que promovem um circulo vicioso de repressão e crime.

Por isso violencia, prisão e mortes nas favelas do Rio de Janeiro, brutalidade na ação policial em ocupações, como a do Pinheirinho, grosserias e agressões contra jovens, negros e desempregados. Criminalização de trabalhadores e dirigentes sindicais quando realizam suas mobilizações. Enquando do outro lado sorrisos nas bocas de criminosos como Salvador Cacciola, e rapida passagens pelas grades de Pitta, Naji Nahas, Daniel Dantas.

Sem duvida a policia e os tribunais em nosso pais tem classe. A classe burguesa, e a clara determinação de repressão do povo pobre.

Com Lula, aumentou a criminalização
Atualmente, no Brasil, nos vendem a imagem que vivemos em um Estado Democrático, cumpridor das leis, com uma polícia e um judiciário neutro, e que agora, com o governo Lula, os trabalhadores tem mais espaço para conquistar suas reivindicações. Mas a vida e a realidade não são bem assim.

Apesar da aparência democrática há um aumento da criminalização dos movimentos sociais e cada vez mais os trabalhadores estão sendo impedidos de utilizar suas formas de luta.

Por exemplo, o MST sofreu por parte do Ministério Público do Rio Grande do Sul e Federal ações judiciais que visa colocá-los fora da lei e criminalizar as ocupações de terra como sendo atos de terrorismo.

Segundo os promotores, o MST é uma organização paramilitar, treinado pelas FARCs e que ameaça a segurança nacional. Por isso o Conselho do MP gaúcho decidiu iniciar uma série de medidas para “dissolução do MST e declaração de sua ilegalidade”. Proibiu qualquer deslocamento de sem-terra, como marchas ou caminhadas e passou a investigar acampamentos e lideranças por “práticas criminosas” e uso de verbas públicas. Pressionado, o Ministério Público recuou, mas acusou oito trabalhadores rurais em Carazinho de crimes contra a Lei de Segurança Nacional.

Além disso a Justiça Federal de Marabá, no Pará, multou três líderes sem-terra em R$ 5,2 milhões por terem participado de manifestações que interditou a Estrada de Ferro de Carajás (PA), que pertence à Vale do Rio Doce.

A maior ocupação urbana do Brasil, o Pinheirinho, em São José dos Campos, também sofre constantes blitz da polícia de maneira truculenta e com a imprensa dando sensacionalismo a qualquer crime que ocorre na ocupação, como os mesmos crimes não ocorressem em quaisquer bairros de São Paulo ou Rio de Janeiro.

No movimento sindical, recentemente a Apeoesp, filiada a CUT, recebeu uma multa de 1999 de 700 mil reais que esta sendo executada agora e uma de 2005 de 4 milhões de reais e a terceira 2008 de 500 mil e que levou ao bloqueamento provisório da conta, por realizar uma manifestação na Paulista, com isso sua conta foi bloqueada.

Os rodoviários do Amapá foram acusados por toda imprensa do estado, em conluio com a patronal, de terem sequestrado os ônibus na greve e terem cobrado passagens mais baratas para arrecada dinheiro para o Fundo de Greve. Neste caso tentam identificar uma ação dos trabalhadores com um crime inafiançável, preparando uma denuncia juntamente com o Ministério Publico do estado, para intimidar e, se não houver reação, colocar os dirigentes sindicais na cadeia.

Os petroleiros da FNP estão sendo acusados criminalmente por atentado violento ao pudor pela manifestação realizada pelos aposentados na porta do Edise, Rio de Janeiro, onde estes tiraram a roupa para criar um fato político. O Sindicato de Alagoas e Sergipe já recebeu cerca de 4 Interditos Proibitórios para que não possa mais realizar manifestações e uma multa de 750 mil reais. E na recente greve de 5 dias a Petrobras também conseguiu um Interdito para evitar a paralisação da refinaria da Bahia e para desocupar as plataformas ocupadas pelos grevistas na Bacia de Campos, que foram acusados de motim.

Na Revap em São José dos Campos a Petrobras buscou criminalizar os dirigentes do movimento através de um inquérito policial, pelos danos ocorridos na refinaria no confronto entre policia e grevistas. Tentando esconder suas responsabilidade por ter autorizado a entrada da Tropa de Choque dentro da refinaria, a noite, sem nenhuma ordem judicial e sem nenhum preparo para a ação. A direção da Petrobras é quem deveria ser criminalizada se ocorresse algum incidente grave.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, recebeu quase uma centena de Interditos Proibitórios, somente da Embraer, que ganhou em multas sobre o sindicato mais de 5 milhões de reais, para os quais são descontados 30% da arrecadação mensal (90 mil reais). Latequer e Hitachi também tem Interditos contra o sindicato. A GM também, recebeu Interditos Proibitórios que buscam impedir que o sindicato faça trabalho com os terceirizados e trabalhadores das empreiteiras e recentemente conseguiu uma Notificação Judicial para penalizar civil e criminalmente o sindicato e seus diretores, se estes realizarem atividades em outras bases, a exemplo da GM de Gravataí e São Caetano.

Como disse o dirigente da Conlutas, Atnagoras Lopes, “se realizamos greve fora da fábrica, recebemos Interditos e somos multados, se realizamos greve dentro da fábrica somos criminalizados, se realizamos passeatas somos punidos e também multados. Então que diabo de direito de greve é este que o trabalhador não pode ficar dentro, nem fora da fábrica e nem fazer manifestação”.

O PSTU assume o compromisso publico em seu programa eleitoral de combater a criminalização dos movimentos sociais e de assumir para si as bandeiras do Seminário Nacional contra a criminalização dos movimentos sociais realizado nos dias 21 e 22 de outubro, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB, em Brasília (DF) e sua carta manifesto.

NOTAS:
[1]
LÊNIN, Estado e Revolução
[2] Idem

FONTE: SITE DO PSTU

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