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Sunday, August 16, 2009
Honduras Resiste 46 – 1*
12 de Agosto de 2009.
* 46 dias de Resistência do Povo hondurenho e 1 dia de minha visita ao país.
Dirceu Travesso - membro da Secretaria Executiva Nacional da Conlutas - Brasil
Esta viagem à Honduras é parte de um esforço de tantos militantes e organizações que buscam manter acesa a chama do internacionalismo de classe. A Conlutas, buscou se engajar junto com outros setores desde o primeiro momento, 28 de junho, quando ocorre o golpe militar que depôs Miguel Zelaya em iniciativas de solidariedade.
Durante a viagem iniciada na madrugada do dia 12 em São Paulo, com conexão no Panamá e escala na Costa Rica vêem a memória as lembranças do anos 70 e 80, as ditaduras na América Central, a resistência na Nicarágua, El Salvador, Guatemala e outros países e reaparece as imagens da experiência dura de toda uma geração do significado dos golpes militares, onde o principal alvo sempre foram os trabalhadores, as organizações sindicais e sociais.
A chegada em Tegucigalpa, capital, com cerca de 1 milhão de habitantes dos 7.500.000 de Honduras, vai revelar em poucas horas a situação e os dilemas deste país. Um golpe militar, pela primeira vez na história, reprovado, pelo menos formalmente, pelo imperialismo que tenta se impor.
No aeroporto, por volta das 13:30 h (no Brasil 16:30 h), a sensação de não estar chegando em um país com uma ditadura. Não há uma presença ostensiva de militares, muito menos tanques ou veículos militares, como a memória das ditaduras dos anos 70 evoca. Desembarco usando uma camisa com a figura de Rosa de Luxemburgo e sua frase, “Quem não se movimenta não sente o peso das correntes que o prendem” passo normalmente pela Policia Nacional, alfândega, etc. O dirigente que me espera no Aeroporto, membro da Coordenação da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, no telefonema feito do Panamá para confirmar se estaria me esperando me avisa “estoy usando uma camisa contra el golpe”. Me recebe, de camisa Contra o Golpe e saímos normalmente do Aeroporto para a cidade.
O destino seria o centro da cidade, onde estava por acontecer o ato de encerramento da marcha que tinha percorrido o centro da cidade, convocado pela Frente Nacional Contra o Golpe. No caminho o telefonema avisa que a manifestação havia sido reprimida violentamente. Mudamos a direção. Vamos “a la Pedagógica”, faculdade de formação de professores. Me informa que é o local tradicional de onde saem as manifestações do Sindicato dos Professores, ou melhor professoras, pois aqui também de esmagadora maioria de mulheres. Uma das categorias que tem cumprido um papel fundamental na resistência, em greve desde o primeiro dia. O telefone continua tocando, informações sobre prisões e a repressão.
Chegamos à Pedagógica, a orientação dada para a manifestação ante à repressão foi que todos se dirigissem para lá. Além de ser o local da saída das marchas, várias delegações do interior, que chegaram à Tegucigalpa, ontem dia 11, para a marcha nacional que contou com cerca de 30.000 pessoas, convocada pela Frente estão alojadas na Faculdade.
Ainda havia pouca gente, descemos e paramos na rua, com as poucas pessoas que já haviam chegado lá. Eles estão conversando sobre o que está ocorrendo. De repente saem de dentro da Faculdade, companheiros e companheiras correndo. Atrás o Exército e a Policia Nacional atirando e reprimindo. Vieram por dentro da Faculdade e chegaram por trás dos que já haviam chegado. Correria, gritos, tiros, bombas. Todos correm.
Mais tarde aparecem as informações do dia 12. Nestes 46 dias de resistência um dos dias com mais repressão. Cerca de 40 presos em Tegucigalpa e mais 80 em San Pedro Sula (segunda cidade do pais com cerca de 700.000 habitantes). Uma contra ofensiva dos golpistas, depois da marcha de cerca de 30.000 no dia anterior que terminou com enfrentamentos e algumas lojas de cadeias de fast food, de setores ligados ao golpe incendiadas e depredadas. Um episódio até agora pouco esclarecido sobre sua origem. **
A Ditadura aparece. Não tem a mesma força e truculência de outros anos. Os limites dados por uma resistência heróica do povo hondurenho que tem como principal organismo impulsionador a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado (onde participam todos os setores contra o golpe) e a situação internacional. Uma ditadura com os militares formados na mesma Escola das Américas que formou os “gorilas” facínoras de antes, com uma unidade muito forte dos setores burgueses hondurenhos e suas instituições.
Isolada internacionalmente, pelas limitações que tem hoje a política do Governo Obama, representante das transnacionais e seus negócios, mas que sobe ao governo como expressão da derrota da política belicista intervencionista de Bush e enfrentando a pior crise econômica imperialista desde 29. Um governo imperialista que se utilizou dos militares para fazer uma pressão no Goveno Zelaya e sua aproximação com Chavez, mas que ficou em uma situação difícil quando seus aliados hondurenhos deram o golpe, atravessando o sinal.
Para Obama, a sustentação de um golpe militar neste momento, seria a negação de toda a tentativa de pintar uma nova cara para o imperialismo. Não nos confundirmos ante essa situação é decisivo. Nem acreditar que Obama e o imperialismo tenham mudado nem ignorar suas contradições que acabam de alguma maneira fragilizando os golpistas que reprimem forte, mas com limitações dadas pela falta do respaldo total e formal do imperialismo.
De outro lado o destaque a um povo, que tem lutado heroicamente para derrotar o golpe contando com várias limitações de organização. Mas também com uma limitação das mobilizações de solidariedade internacional. Até agora muito aquém do necessário para uma resposta categórica que cabe ante um golpe militar.
Mesmo que esse golpe tenha todas as limitações da conjuntura internacional. Os únicos que podem derrotá-lo de maneira coerente são o povo e os trabalhadores hondurenhos com suas organizações de trabalhadores e populares à frente mas contando com a solidariedade de classe internacional.
Esse é o desafio. Um chamado as organizações internacionais dos trabalhadores que assumam a campanha pela derrota do golpe em Honduras como um dos centros de suas atividades e iniciativas.
** O relato da magnitude da marcha do dia 11, detalhes da repressao do dia 12 também me foram transmitidos por Marcelo Buzzeto do MST, Ivan Pinheiro do PCB e Amauri Soares deputado estadual de Sta Catarina que tive o prazer de encontrar nesta noite em Tegucigalpa, quando se preparavam para viajar de volta ao Brasil depois de uma visita de 3 dias.
12 de Agosto de 2009.
* 46 dias de Resistência do Povo hondurenho e 1 dia de minha visita ao país.
Dirceu Travesso - membro da Secretaria Executiva Nacional da Conlutas - Brasil
Esta viagem à Honduras é parte de um esforço de tantos militantes e organizações que buscam manter acesa a chama do internacionalismo de classe. A Conlutas, buscou se engajar junto com outros setores desde o primeiro momento, 28 de junho, quando ocorre o golpe militar que depôs Miguel Zelaya em iniciativas de solidariedade.
Durante a viagem iniciada na madrugada do dia 12 em São Paulo, com conexão no Panamá e escala na Costa Rica vêem a memória as lembranças do anos 70 e 80, as ditaduras na América Central, a resistência na Nicarágua, El Salvador, Guatemala e outros países e reaparece as imagens da experiência dura de toda uma geração do significado dos golpes militares, onde o principal alvo sempre foram os trabalhadores, as organizações sindicais e sociais.
A chegada em Tegucigalpa, capital, com cerca de 1 milhão de habitantes dos 7.500.000 de Honduras, vai revelar em poucas horas a situação e os dilemas deste país. Um golpe militar, pela primeira vez na história, reprovado, pelo menos formalmente, pelo imperialismo que tenta se impor.
No aeroporto, por volta das 13:30 h (no Brasil 16:30 h), a sensação de não estar chegando em um país com uma ditadura. Não há uma presença ostensiva de militares, muito menos tanques ou veículos militares, como a memória das ditaduras dos anos 70 evoca. Desembarco usando uma camisa com a figura de Rosa de Luxemburgo e sua frase, “Quem não se movimenta não sente o peso das correntes que o prendem” passo normalmente pela Policia Nacional, alfândega, etc. O dirigente que me espera no Aeroporto, membro da Coordenação da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, no telefonema feito do Panamá para confirmar se estaria me esperando me avisa “estoy usando uma camisa contra el golpe”. Me recebe, de camisa Contra o Golpe e saímos normalmente do Aeroporto para a cidade.
O destino seria o centro da cidade, onde estava por acontecer o ato de encerramento da marcha que tinha percorrido o centro da cidade, convocado pela Frente Nacional Contra o Golpe. No caminho o telefonema avisa que a manifestação havia sido reprimida violentamente. Mudamos a direção. Vamos “a la Pedagógica”, faculdade de formação de professores. Me informa que é o local tradicional de onde saem as manifestações do Sindicato dos Professores, ou melhor professoras, pois aqui também de esmagadora maioria de mulheres. Uma das categorias que tem cumprido um papel fundamental na resistência, em greve desde o primeiro dia. O telefone continua tocando, informações sobre prisões e a repressão.
Chegamos à Pedagógica, a orientação dada para a manifestação ante à repressão foi que todos se dirigissem para lá. Além de ser o local da saída das marchas, várias delegações do interior, que chegaram à Tegucigalpa, ontem dia 11, para a marcha nacional que contou com cerca de 30.000 pessoas, convocada pela Frente estão alojadas na Faculdade.
Ainda havia pouca gente, descemos e paramos na rua, com as poucas pessoas que já haviam chegado lá. Eles estão conversando sobre o que está ocorrendo. De repente saem de dentro da Faculdade, companheiros e companheiras correndo. Atrás o Exército e a Policia Nacional atirando e reprimindo. Vieram por dentro da Faculdade e chegaram por trás dos que já haviam chegado. Correria, gritos, tiros, bombas. Todos correm.
Mais tarde aparecem as informações do dia 12. Nestes 46 dias de resistência um dos dias com mais repressão. Cerca de 40 presos em Tegucigalpa e mais 80 em San Pedro Sula (segunda cidade do pais com cerca de 700.000 habitantes). Uma contra ofensiva dos golpistas, depois da marcha de cerca de 30.000 no dia anterior que terminou com enfrentamentos e algumas lojas de cadeias de fast food, de setores ligados ao golpe incendiadas e depredadas. Um episódio até agora pouco esclarecido sobre sua origem. **
A Ditadura aparece. Não tem a mesma força e truculência de outros anos. Os limites dados por uma resistência heróica do povo hondurenho que tem como principal organismo impulsionador a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado (onde participam todos os setores contra o golpe) e a situação internacional. Uma ditadura com os militares formados na mesma Escola das Américas que formou os “gorilas” facínoras de antes, com uma unidade muito forte dos setores burgueses hondurenhos e suas instituições.
Isolada internacionalmente, pelas limitações que tem hoje a política do Governo Obama, representante das transnacionais e seus negócios, mas que sobe ao governo como expressão da derrota da política belicista intervencionista de Bush e enfrentando a pior crise econômica imperialista desde 29. Um governo imperialista que se utilizou dos militares para fazer uma pressão no Goveno Zelaya e sua aproximação com Chavez, mas que ficou em uma situação difícil quando seus aliados hondurenhos deram o golpe, atravessando o sinal.
Para Obama, a sustentação de um golpe militar neste momento, seria a negação de toda a tentativa de pintar uma nova cara para o imperialismo. Não nos confundirmos ante essa situação é decisivo. Nem acreditar que Obama e o imperialismo tenham mudado nem ignorar suas contradições que acabam de alguma maneira fragilizando os golpistas que reprimem forte, mas com limitações dadas pela falta do respaldo total e formal do imperialismo.
De outro lado o destaque a um povo, que tem lutado heroicamente para derrotar o golpe contando com várias limitações de organização. Mas também com uma limitação das mobilizações de solidariedade internacional. Até agora muito aquém do necessário para uma resposta categórica que cabe ante um golpe militar.
Mesmo que esse golpe tenha todas as limitações da conjuntura internacional. Os únicos que podem derrotá-lo de maneira coerente são o povo e os trabalhadores hondurenhos com suas organizações de trabalhadores e populares à frente mas contando com a solidariedade de classe internacional.
Esse é o desafio. Um chamado as organizações internacionais dos trabalhadores que assumam a campanha pela derrota do golpe em Honduras como um dos centros de suas atividades e iniciativas.
** O relato da magnitude da marcha do dia 11, detalhes da repressao do dia 12 também me foram transmitidos por Marcelo Buzzeto do MST, Ivan Pinheiro do PCB e Amauri Soares deputado estadual de Sta Catarina que tive o prazer de encontrar nesta noite em Tegucigalpa, quando se preparavam para viajar de volta ao Brasil depois de uma visita de 3 dias.
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