Thursday, April 8, 2010



RAFAEL NUNES, DO RIO DE JANEIRO (RJ)

Após o temporal de cinco horas que parou a cidade, as consequências são as piores possíveis. As chuvas ainda não cessaram completamente e já passam de noventa mortos, dezenas de desaparecidos e centenas de desabrigados em todo a Grande Rio. Os locais mais afetados são as áreas mais carentes, onde se conta o maior número de mortos. Em alguns bairros, uma grande parcela dos moradores não pode voltar para suas casas. Além de casas alagadas pela invasão dos rios, dezenas de carros foram abandonados ou enguiçaram em vários pontos alagados, formando congestionamentos intermináveis e parando de vez a cidade.

A imprensa já anuncia que foi o maior temporal em volume de água desde a marcante enchente de 1966, o que representaria um fator natural em todo esse caos, e as trágicas mortes são apontadas, a todo o momento, como culpa das pessoas que insistem em morar próximo às perigosas encostas. Só em Santa Teresa, no morro dos Prazeres, dez corpos foram resgatados pelos bombeiros, e dez ainda estão desaparecidos.

Em Vila Isabel, no alto do Morro dos Macacos, teve cinco mortos para registrar em seu triste diário social. A comunidade é a mesma que, no ano passado, viveu cenas de terror da violência carioca com a queda de um helicóptero e a invasão de traficantes rivais e policiais.

A comunidade do morro do Borel sofre com pelo menos dois mortos. No Morro da Mangueira, moradores conseguiram sair antes de um deslizamento levar quatro casas. Em Niterói, já se somam 41 mortos, 34 no Rio, 16 em São Gonçalo e vários em outros municípios diversos. A maioria, como sempre, é formada por famílias pobres que moram em condições precárias.

Governos criminalizam a pobreza pelas mortes
Depois da política genocida de exterminação da pobreza aplicada pelo governo do Estado, os principais culpados pelas mortes, apontados pelos governos, não poderiam ser outros: os pobres. Há tempos que os trabalhadores sofrem com entrada indiscriminada da polícia em comunidades carentes. Com caveirões e armas de guerra, ocasionam um verdadeiro extermínio de pobres e várias chacinas. O governo municipal, aplicando a fundo a política de choque de ordem, visa impedir o trabalho informal de camelôs e ambulantes para enriquecer os donos de bares e restaurantes.

As declarações dadas aos noticiários no dia seguinte ao temporal, assombram pela frieza e irresponsabilidade dos governantes. Para eles, além da natureza, que castigou a cidade com o maior temporal de todos os tempos, são os moradores de morros e encostas os responsáveis por suas próprias mortes, já que insistem em permanecer nesses lugares.

Em primeiro lugar, a natureza nada tem a ver com a falta de investimentos em obras públicas e saneamento urbano. As enchentes ocorrem constantemente na cidade, e nenhuma medida é adotada para mudar essa realidade durante décadas. Depois, é uma hipocrisia pensar ou afirmar que os moradores que se encontram em locais de risco ou de alagamentos possuam alguma segunda opção de moradia, ainda mais acreditar que essa seria fornecida por esses governos.

Nenhuma mãe ou pai quer suas famílias correndo risco de morte. Os governos são os responsáveis por essas mortes ao permitir que a maioria da população urbana viva na miséria e em péssimas condições de moradia.

O presidente Lula também culpou a população carente e minimizou a responsabilidade dos governos, apontando que esses são responsáveis, na medida em que deixam as pessoas construírem casas nesses locais. Mais do que deixar ou não deixar as construções acontecerem, o problema de habitação mostra o grau de desenvolvimento socioeconômico em que se encontra a maioria da população e como, de fato, os governos deveriam intervir.

Se os trabalhadores ganhassem o suficiente para sua alimentação, saúde, lazer, educação, transporte e moradia, não arriscariam sua vida morando na beira de um deslize. Eles não possuem opção de moradia segura pelo grau de pobreza em que se encontram, como é conveniente a Lula, Sergio Cabral e Eduardo Paes, esses sim, os verdadeiros culpados pelas mortes. A única saída que esses governantes apontam é que os moradores têm de sair de suas casas. Porém não dizem para onde eles devem ir e não apresentam nenhuma medida concreta que resolva a situação.

Emprego, salário digno e construção de casas para a população carente
Para que haja um programa de habitação que garanta condições de vida digna para a população, é necessário que se invista em construção de moradias populares. Lula, durante a crise econômica, despejou dezenas de bilhões para salvar banqueiros e empresários e, agora, com a grave crise da miséria dos desabrigados, não anuncia nenhum pacote de ajuda financeira para construção de casas para essas pessoas e ainda manda cada um pedir a Deus.

Sérgio Cabral, que tanto estardalhaço fez por conta dos royalties do petróleo, dá mais uma demonstração de que esse dinheiro e o de todos os impostos não servem para resolver os problemas sociais. Tanto ele quanto o prefeito, que também governa um dos municípios que mais arrecada impostos, não anunciam nenhum programa de substituição de moradias inseguras por casas populares em locais seguros.

Além de doações de casas, é fundamental garantir que todas as pessoas tenham acesso ao emprego e salários decentes. Os governos que são eleitos pelo povo deveriam governar para ele, garantindo que os trabalhadores tivessem empregos e salários dignos para a manutenção de suas famílias e casas. Mas, ao invés disso, governam para os ricos empresários e banqueiros, garantindo seus lucros recordes e acentuando cada vez mais a miséria e as tragédias da população carente.

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