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Saturday, July 30, 2011
Vanuza Sampaio:
“Fui ameaçada de morte”
“Fui ameaçada de morte”
trechos da entrevista
A advogada relata as intimidações sofridas depois de denunciar os assessores da ANP que a achacaram e diziam arrecadar para o PCdoB
REDAÇÃO ÉPOCA
EXTORSÃO
O vídeo no qual Vanuza é achacada pelos dois assessores da ANP virou peça de investigação do Ministério Público Federal
O vídeo no qual Vanuza é achacada pelos dois assessores da ANP virou peça de investigação do Ministério Público Federal
A advogada Vanuza Sampaio respira medo.
Desde a semana passada, quando ÉPOCA revelou o vídeo da corrupção gravado por ela com assessores da ANP, Vanuza não fala ao telefone, evita sair à rua e só anda de carro blindado.
Ela, como experiente advogada junto à ANP, sabe que a máfia dos combustíveis não brinca.
ÉPOCA conseguiu localizá-la na última quarta-feira.
Num ato corajoso, Vanuza aceitou falar à reportagem confirmando o que já narrou ao Ministério Público e à Polícia Federal.
A entrevista foi gravada.
Nela, além de contar as ameaças que recebeu, Vanuza afirmou que os assessores da ANP a informaram que o dinheiro cobrado por eles iria para o PCdoB.
A seguir, trechos da entrevista.
ÉPOCA – Quando começaram seus problemas na ANP?
Vanuza Sampaio – Quando Edson Silva (dirigente do PCdoB e ex-deputado federal) assumiu a Superintendência de Abastecimento. Sou a advogada com maior número de processos na ANP, e muitos passam pela área de Abastecimento, a mais importante da agência. Ele (Edson Silva) mandou me chamar assim que assumiu. E me comunicou: “Eu sei que você tem muitos processos aqui. Temos de trabalhar de forma harmônica”. Respondi a ele que sempre agi com lisura e respeito a meus clientes. Cobro de acordo com a dificuldade do processo. Se o processo for trabalhoso, cobro mais. Se for fácil, cobro menos. Deixei claro que não faria nenhum tipo de parceria.
ÉPOCA – Qual foi a reação dele?
Vanuza – Não mencionou valores nem avançou o sinal. Mas, em seguida, começou a criar todas as dificuldades do mundo para meus clientes. Chegaram a assediar alguns deles, dizendo que, como haviam me contratado, os processos deles não iriam andar na ANP. Meus clientes ficaram preocupados e disseram que eu tinha de fazer parceria com o Edson. Eu me recusei.
ÉPOCA – Por quê?
Vanuza – Seria errado. Quando virei advogada, fiz um juramento defendendo cumprir a lei. Iria começar a extorquir meus clientes? Jamais! Além disso, seria estupidez. Tenho cerca de 3 mil processos na ANP. Se começasse a agir assim em tantos casos, alguém logo ficaria sabendo. Todos nós sabemos como funcionam as coisas no Brasil. Então, minhas conversas com meus clientes sempre foram claras. Sempre disse que eu não poderia oferecer dinheiro em nome deles. E nunca iria extorquir quem me procura. Posso dizer para o cliente: “Olha, esse cara tem abertura e pode resolver”. Mas aí eu não me meto e saio do negócio. Não tenho coragem nem estômago.
ÉPOCA – Que tipo de parceria Edson Silva queria fazer?
Vanuza – Uma coisa louca. Queria que eu passasse metade dos meus negócios para ele, que fosse sócia dele. Queria até ditar regra de quanto cobrar.
ÉPOCA – Ele fez essa proposta?
Vanuza – Não, aí que entram o Antonio e o estagiário (Antonio José Moreira e Daniel de Carvalho Lima, os dois homens que aparecem no vídeo) . No meio dessa confusão, eles me procuraram e me orientaram a transferir metade – metade! – dos meus clientes a um advogado de São Paulo ligado a eles. Assim, a ANP não pegaria mais no meu pé. Um absurdo. Disse a eles que queria ouvir da boca do Edson que ele poderia ter qualquer negócio comigo. Disse: “Se ele (Edson) falar que vocês são intermediários dele, eu fecho com vocês. Mas quero ouvir da boca dele”. Eu queria ter certeza de que os dois não estavam apenas usando o nome do Edson.
ÉPOCA – Quando a senhora teve certeza?
Vanuza – Logo depois, os dois me levaram ao encontro do Edson, num café de uma livraria que fica na Avenida Rio Branco (centro do Rio) . O Edson não falou em dinheiro, mas avalizou o nome deles. O Edson disse: “O Antonio (então assessor da ANP) é meu amigo e fala por mim”. Foi aí que percebi que não havia jeito, que era preciso fazer alguma coisa ou eles tomariam todos os meus clientes. Não aguentava mais.
ÉPOCA – O que a senhora fez?
Vanuza – Procurei o Ministério Público e a Polícia Federal. Fui orientada a gravar um flagrante. Um agente da PF instalou o equipamento para gravar a conversa com os dois em meu escritório. Gravei e entreguei o vídeo ao MP. Contei tudo o que sabia em detalhes. Está tudo no meu depoimento.
ÉPOCA – No vídeo, os dois falam que o dinheiro seria dividido. Mas há trechos de difícil compreensão. Eles disseram para quem iria o dinheiro?
Vanuza – Eles explicaram como funcionava (o esquema) . Disseram que todos os cargos do PCdoB precisam levantar dinheiro, que tem de ser para o partido, que tem de ter divisão...
ÉPOCA – Disseram se o dinheiro era para campanha?
Vanuza – Não chegaram a falar de campanha nem citaram nomes. Mas não deu tempo de aprofundar.
ÉPOCA – Por que não?
Vanuza – Pretendia ter um segundo encontro com eles, levantar mais provas para as autoridades. Mas, logo depois que entreguei o vídeo e as provas que eu tinha ao MP, o agente da PF que ajudou na gravação, não sei por qual motivo, comunicou tudo à direção da ANP. Isso inviabilizou tudo. Os dois (Moreira e Daniel de Carvalho) acabaram saindo da agência. O Edson foi tirado da Superintendência, mas virou assessor do diretor-geral logo depois.
ÉPOCA – A senhora sofreu retaliações?
Vanuza – Logo depois que minhas denúncias vazaram para a direção da ANP, recebi ameaças de morte. Fui abordada por um homem na saída do meu escritório, no centro do Rio. Eu estava a caminho do estacionamento. Ele agarrou meu braço e começou a andar comigo até meu carro. Achei que fosse um assalto. Ele disse que era muito perigoso falar com a polícia e o Ministério Público. Ele falou: “A senhora sabe que tem policial que salva e policial que mata, não é? É melhor a senhora parar de falar”. Fiquei apavorada. Mudei de casa, contratei seguranças, comecei a andar de carro blindado. Passei a ter medo o tempo inteiro. Minha vida quase acabou.
ÉPOCA – A senhora tem ideia de quem foi o mandante dessas ameaças?
Vanuza – Não, não tenho. Só posso suspeitar. Mas seria leviano falar. Na verdade, tenho medo até hoje. Não custa nada mandarem me matar.
ÉPOCA – A senhora está disposta a confirmar essas informações às autoridades?
Vanuza – Eu já disse tudo isso ao MP e à PF. O que mais posso fazer? Tentei fazer a coisa certa, mas só me prejudiquei com esse caso. Desde que vocês (ÉPOCA) saíram com essa reportagem, estou sofrendo por todos os lados. Recebo muitos recados ameaçadores. Não falam em fazer faxina no país? Agora cabe ao MP e ao governo fazer a parte deles. O que fizeram até agora? Mas não quero aparecer em CPI, ser usada pela imprensa, como aquele caseiro. Não suportaria.
Vanuza – Eu já disse tudo isso ao MP e à PF. O que mais posso fazer? Tentei fazer a coisa certa, mas só me prejudiquei com esse caso. Desde que vocês (ÉPOCA) saíram com essa reportagem, estou sofrendo por todos os lados. Recebo muitos recados ameaçadores. Não falam em fazer faxina no país? Agora cabe ao MP e ao governo fazer a parte deles. O que fizeram até agora? Mas não quero aparecer em CPI, ser usada pela imprensa, como aquele caseiro. Não suportaria.
28/07/2011 Atualizado em 29/07/2011
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